sexta-feira, 12 de julho de 2013

Drogas - Tabaco

 Bom noite, leitores!

Mais um capítulo referente as drogas e seu uso terapêutico. Hoje estudaremos o tabaco.


Figura 1
O tabaco contém milhares de substâncias, a nicotina é a mais freqüentemente associada com dependência porque é o componente que é psicoativo e causa efeitos comportamentais observáveis, como mudanças de humor, redução do estresse e melhora no desempenho. Os efeitos comportamentais associados com a nicotina liberada durante o ato de fumar incluem alerta, aumento na atenção e na concentração, melhora na memória, redução da ansiedade e supressão do apetite. 

  • Efeitos Comportamentais

A nicotina é uma agonista potente e poderosa de várias subpopulações de receptores nicotínicos do sistema nervoso colinérgico. Doses agudas podem produzir alterações do humor, embora usuários diários sejam substancialmente menos sensíveis a esses efeitos do que não usuários, sugerindo que a tolerância se desenvolve para alguns desses. Brevemente, a nicotina produz efeitos psicoativos, relacionados à dose em humano, que são similares àqueles dos estimulantes e tem escores elevados em testes padronizados de preferência e euforia, considerados confiáveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a avaliação do potencial de dependência.
O potencial de dependência associado com o fumo parece ser equivalente ou ultrapassar os de outras substâncias psicoativas. Em modelos animais, a nicotina pode atuar como reforçador potente e poderoso, ela induz auto-administração intravenosa, facilita a auto-estimulação intracraniana e condiciona preferência por lugar e tem propriedades de discriminação de estímulo. Padrões de auto-estimulação são mais parecidos com os padrões de estimulantes do que de outras classes de drogas.

  • Mecanismo de Ação

 Na célula, a nicotina liga-se aos receptores de acetilcolina nicotínicos (nAChR). Existe uma variedade de subtipos de nAChR neuronais. Técnicas de clonagem revelaram várias subunidades do nAChR diferentes em mamíferos. Os receptores são compostos por cinco subunidades em torno de um canal iônico. A ligação de agonistas (por exemplo, nicotina) faz com que a conformação de repouso das subunidades se modifique para a conformação aberta e permite o influxo de sódio, o que causa despolarização. No cérebro, os receptores nicotínicos estão localizados principalmente nos terminais pré-sinápticos e modulam a liberação de neurotransmissor; dessa forma, os efeitos da nicotina podem estar relacionados a vários sistemas de neurotransmissor. A nicotina conhecidamente promove a síntese de dopamina aumentando a expressão da tirosina hidroxilase e sua liberação tanto na via nigroestriatal como na mesolímbica .

A nicotina aumenta a liberação de dopamina no nucleus accumbens e o bloqueio dessa liberação reduz a auto-administração de nicotina em ratos . A nicotina estimula a transmissão dopaminérgica em áreas cerebrais específicas e, em particular, na cápsula do nucleus accumbens e em áreas da amígdala estendida, que se relacionaram com a dependência para a maioria das drogas . Assim, a nicotina depende da dopamina para seus efeitos comportamentais, que são mais relevantes para suas propriedades reforçadoras; isto é, provavelmente, a base da capacidade de produzir dependência do tabaco. Entretanto, outros sistemas neuronais relacionados à dependência de substância, como os sistemas opióide, glutamatérgico, serotoninérgico e de glicocorticóides, podem ter importância para aspectos específicos da dependência de substância.


      
  • O processo de parar de fumar: estágios de mudança


Figura 2
Parar de fumar não se trata de uma simples decisão súbita em transformar-se de um “fumante regular” em um “não fumante”. Até que um indivíduo realmente resolva parar de fumar, ele percorre um caminho sutil, cheio de idas e vindas. São os chamados “estágios de mudança”, que foram assim descritos por Prochaska e Di Clemente:


  1. Estágio pré-contemplativo: nesse estágio o indivíduo não pretende parar de fumar nos próximos seis meses. São aqueles pacientes que vêem mais prós do que contras em fumar, que negam os malefícios do tabaco à saúde;
  2. Estágio contemplativo: pretende seriamente parar de fumar nos próximos seis meses mas, na verdade, está ambivalente. Encontra um pouco mais contras do que prós em fumar mas, em caso de dúvida, não pára;
  3. Preparação para ação: Pretende seriamente parar no curso do próximo mês. Já começa intuitivamente a usar técnicas comportamentais para livrar-se do fumo. Adia o primeiro cigarro do dia, diminui o número de cigarros fumados etc. Fez pelo menos uma tentativa de parar de fumar no último ano;
  4. Ação: O indivíduo parou de fumar;
  5. Manutenção: Até seis meses após o indivíduo ter abandonado o tabaco. Esse período não ocorre passivamente, apenas deixando as coisas como estão. O indivíduo utiliza mecanismos comportamentais de adaptação ao meio sem cigarro, podendo até mesmo alterar seus hábitos rotineiros (como passar a não tomar mais café, por exemplo).
  • Tratamentos:

Seja qual for o tipo de tratamento, seu objetivo deve ser o de fazer o indivíduo mover-se de um estágio de mudança para outro, no sentido da AÇÃO (parar de fumar). Por isso podemos dizer que existem métodos diretos e indiretos de parar de fumar.
  1. Métodos indiretos:São aqueles que influenciam o fumante à abandonar o cigarro, sem que haja um contato direto com ele. Aqui a ênfase se desloca do tratamento clínico, individual, para a saúde pública. Temos como exemplo a realização de campanhas educacionais anti-fumo; elaboração de normas sociais como a proibição do fumo em restaurantes, teatros e cinemas; e a aplicação de altos impostos sobre o cigarro. Estas intervenções têm como foco a comunidade, são menos custosas e produzem taxas de abstinência mais baixas. Como conseguem atingir um número maior de fumantes, produzem  taxas populacionais de abstinência mais altas e reduzem mais a morbidade e mortalidade.
  2.  Métodos diretos: Apesar de mais custosos, têm também grande impacto em saúde pública, proporcionando redução na prevalência de fumantes (e consequentemente de sua morbidade e mortalidade). Envolvem utilização de fármacos, realização de psicoterapia, ou somente aconselhamento por um profissional de saúde a respeito da maneira mais adequada de deixar de fumar.A maioria dos fumantes prefere não procurar programas de suspensão do tabagismo e parar de fumar sozinho. Por isso, estes programas são usados aquém de suas possibilidades, por poucos daqueles indivíduos que não conseguiram parar por si mesmos.
Figura 3

Curiosidade!
A meia-vida média da nicotina é de aproximadamente 2h, mas é cerca de 35% maior em pessoas com uma variante particular de um gene (isto é, um alelo) para a enzima (CYP2A6) que inibia a via metabólica primária da nicotina. Estudos preliminares sugerem que a freqüência do alelo da CYP2A6 seja maior em asiáticos do que em africanos ou caucasianos e que essa diferença explica parcialmente o menor consumo diário de cigarros e o risco de câncer de pulmão menor em asiáticos em comparação com africanos e caucasianos.

Bibliografia:

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