sábado, 13 de julho de 2013

Patologias - Causas: Depressão

A depressão é uma doença complexa, e muito estudada por ser tanto uma questão de saúde pública quanto pelos vários neurotransmissores que estão envolvidos nela, o que cria uma maior possibilidade de tratamentos. Para se ter uma ideia, atualmente existem 298 milhões de pessoas com depressão no mundo, e esse número só aumenta, de forma que em 2030 será a doença mais comum. De todos os casos de depressão, 15% acabam em suicídio.
Ela pode ser classificada quanto a:

  • Causa: quando há uma detectável, é classificada como primária. Se não é possível detectar uma, a doença é classificada como secundária.
  • Componente genético: ocorrência de depressão na família. Pode ser esporádica, espectral ou familial.
  • Sintomas: se há episódios de mania, é bipolar. Se não há, unipolar.
  • Gravidade: leve ou grave.

Com isso, é possível dividir os casos de depressão em três grupos:
  • Reativa: ocorre em resposta a um episódio estressante, uma doença física grave ou uso de drogas, lícitas ou não. A depressão nesse caso é uma resposta, algo colateral.

  • Distimia: depressão crônica que dura dois anos ou mais, e que pode não ser suficiente para abalar a vida da pessoa como a depressão maior, mas atrapalha seu funcionamento e diminui as sensações de prazer.

  • Depressão maior: é de causa primária, com um fator genético envolvido. São episódios depressivos que ocorrem ao longo da vida, de natureza grave e que podem levar ao suicídio se não tratados.

  • Bipolar: também de causa primária, se caracteriza por ser um ciclo de uma fase de mania com episódios de depressão, onde o humor da pessoa muda completamente. A fase de mania se caracteriza por ser uma fase muito extrovertida e de ações impulsórias. A depressiva apresenta os sintomas que serão listados a seguir.

São vários os sintomas, e muitos podem ser difíceis de perceber, o que dificulta o diagnóstico. Maior incidência de doenças cardiovasculares, dores de cabeça, insônia, hipersônia, falta de apetite ou aumento desse, problemas intestinais, cãibras, sintomas comparáveis à diabetes, sentimentos persistentes de tristeza, culpa, estresse, irritabilidade, pessimismo, falta de esperança, incapacidade de se divertir, incapacidade de se concentrar, de se lembrar de acontecimentos, tentativas de suicídio e muitos outros são os sintomas dessa doença que envolve nada menos que quato neurotransmissores. Todos eles são deductíveis a partir da explicação de como a depressão começa e o desequilíbrio de cada um dos envolvidos.
Os neurotransmissores envolvidos no processo são a seretonina, a dopamina, a noradrenalina e o cortisol. A diminuição de seretonina leva à menor concentração dos dois outros no encéfalo, levando aos sintomas emotivos e sociais. A seretonina, por atuar em várias partes do corpo, leva aos sintomas físicos. Mas, o que o cortisol tem a ver com isso? Também conhecido por hormônio do estresse, ele é liberado em situações traumáticas ou em momentos de ansiedade, e inibe uma enzima responsável por sintetizar seretonina. Sem seretonina, a produção de noradrenalina e dopamina caem, e isso vira um efeito bola de neve, pois a ansiedade e o estresse só pioram, e a pessoa não se sente melhor com nada, pois não há a dopamina para ser liberada.



Os neurotransmissores e suas relações com os sintomas: dopamina está relacionada com o desejo de realizar algo, o efeito recompensa e o prazer. A noradrenalina, ou noraepinefrina comanda o sentido de alerta, a concentração e a energia, e a seretonina controla as obsessões, compulsões e a memória. Dopamina e noraepinefrina controlam a atenção, noraepinefrina e seretonina controlam a ansiedade, comportamento impulsivo e irritabilidade, dopamina e seretonina controla o apetite sexual e a agressividade. Todas as três controlam as funções cognitivas e o humor. Portanto, a falta deles irá diminuir, inibir tudo aquilo a que estão relacionados.







Bibliografia:
Revista “Superinteressante”, Junho de 2013, matéria de capa
http://web.archive.org/web/20110606040559/http://www.nimh.nih.gov/health/publications/depression/nimhdepression.pdf

CLARITY

Então, como os pesquisadores de Stanford chegaram ao que é chamado de CLARITY ?

Bem, primeiramente foiinfundindo monômeros de hidrogel — no caso, acrilamida e bissacrilamida — e formaldeído no tecido a 4ºC. O formaldeído liga covalentemente os monômeros de hidrogel a biomoléculas incluindo proteínas, ácidos nucleicos e pequenas moléculas. No próximo passo, a polimerização do conjugado de biomoléculas e monômeros em uma rede de hidrogel , ocorre por incubação do tecido infundido a 37ºC por 3 horas.

A hibridização do tecido-hidrogel suporta fisicamente o tecido e incorpora quimicamente biomoléculas na rede formada. Lipídios e biomoléculas que não possuem os grupos funcionais para a conjugação continuam desatados da rede de hidrogel e podem, então, ser removidos do hibrido.

Então, para a extração dos lipídios nesse novo método foi desenvolvido uma técnica iônica de extração. Usualmente utilizam-se solventes orgânicos, porém, os mesmo diminuem a eficiência da fluorescência no momento da visualização microscópica. Então, foi colocado o detergente SDS (dodecil sulfato de sódio), as micelas do detergente envolviam os lipídios e foram retirada por uma técnica ativa de transporte, que foi determinada como electrophoretic tissue clearing (ETC) , que se concentra na característica das micelas iônicas de serem altamente carregadas.


O hidrogel então asseguraria as biomolécula e características estruturais como proteínas de membrana e sinapses, enquanto o lipídio que causa dispersão da luz e dificulta a penentraçao de macromoléculas seria ativamente removido, deixando um sistema biológico totalmente associado disponível a para fenotipação e imagem em alta resolução.
                                                     
                                                                          Figura 1 

Esquema do método CLARITY



Figura 2


                    Cérebro de camundongo antes do CLARITY                     Cérebro de camundongo depois do CLARITY             
                                                 


Figura 3
Visualização no microscópio




Figura 4


Visão tridimensional do hipocampo, mostrando em verde os neurônios excitatorios, em vermelho
neurônios inibitórios e em azul os astrócitos.



Para se entender mais do resultado de CLARITY, assista ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=c-NMfp13Uug








Métodos de Pesquisa em Neurociência - Introdução a CLARITY

A obtenção de informação em alta resolução mantendo a perspectiva global necessária para o entendimento da função do sistema do cérebro, representa um desafio na biologia. Métodos recentes utilizados em cérebros de mamíferos ou envolvem seccionamento e reconstrução, ou acabam sendo incompatíveis com a fenotipação molecular, ou, até mesmo ambos. Algumas pesquisas que conseguiram mapear estruturalmente o cérebro por meio do seccionamento até foram bem sucedidas, mas eram limitadas pela aplicação em apenas pequenos volumes de tecido.

Estudar o tecido em sua forma intacta é um objetivo ainda não conquistado na biologia. A sua visualização no microscópio de luz é limitada devido à dispersão que a luz sofre por causa da bicamada de lipídio nas membranas das células, e a fenotipação molecular é dificultada.

O objetivo então é transformar o tecido intacto em uma estrutura opticamente transparente e permeável a macromoléculas enquanto, simultaneamente, a estrutura e informação molecular natural são preservadas.

O primeiro problema a ser resolvido seria então a questão da bicamada lipídica das células. Os lipídios implicam na pouca acessibilidade tecidual, tanto para sondas moleculares (usadas na fenotipação de moléculas) como para os fótons., criando uma barreira com propriedades de difusão relevante a penetração química e na dispersão luminosa.

Se a bicamada lipídica pudesse ser removida sem ocorrer destruição e desassociação da estrutura, luz e macromoléculas poderiam penetrar profundamente no tecido, assim, a imagem tridimensional e a analise imunohistológica seria possível. Contudo, remover esses lipídios que provêm integridade estrutural e que retêm biomoléculas iria, inevitavelmente, danificar o tecido com perca de informação celular e molecular importantíssima.  

Assim, prover uma armação, que primeiramente garantisse a integridade física do tecido e assegurasse a informação biológica, seria necessário.
Tal tecnologia já fora desenvolvida e realizada na Universidade de Stanford, Califórnia, e publicada em março desse ano na revista científica Nature e se chama CLARITY.


Referência bibliográfica: http://www.nature.com/news/see-through-brains-clarify-connections-1.12768

Patologias - Causas: Autismo

O autismo e uma doenca doenca complicada , com uma miríade de sintomas, e faz parte dos TGD, os Transtornos Globais de Desenvolvimento, um grupo de cinco disfunções que são caracterizadas por um atraso em todas as funções básicas, como a comunicaçãoo e a socialização. Seus sintomas tipicamente são: dificuldade no uso e na compreensão da linguagem, ausência completa de contato interpessoal, dificuldade ou inabilidade de fala, repetição de movimentos, extremo introvertimento, brinca com brinquedos de forma diferente e apresenta dificuldade em mudar a rotina.
Embora existam transtornos que sejam semelhantes ao autismo, muitas vezes sendo até confundidos com ele, iremos debater somente o autismo que tem como causa o desequilibrio de neurotransmissores como principal motivo.
Sabe-se apenas que o autismo possui uma causa genética, mas até isso é debatido. Alguns o associam a fatores externos, como metais pesados na alimentação materna e a ingestão de agrotóxicos, mas nada foi comprovado. Pais de crianças autistas possuem mais comorbidades mentais, como a depressão, ansiedade e síndrome do pânico do que o normal. como O autismo também é mais comum em homens, porém não se sabe o porquê.
A neurobiologia aponta como possíveis causas, ou sintomas, macrocefalia em 20% das crianças de um a três anos, além de um aumento de massa branca na região cortical e crescimento anormal de várias partes do cérebro que estão relacionadas a comunicação, socialização e habilidades motoras (Lancet, 7 de novembro de 2009).
A via neurológica do autismo não é completamente conhecida, porem já se sabe que sintomas como a hiperatividade e o déficit de atencao podem ser tratados com as drogas para esses dois distúrbios. Nao são muito comuns em pacientes com autismo, mas é um bom começo para criar uma cura para os sintomas. Casos de TDAH estao relacionados a falta de noradrenalina e dopamina. A primeira e uma precursora da adrenalina, e portanto e responsável por todos os efeitos de quando tomamos um susto, como taquicardia e a vasoconstrição periférica, portanto estimulante do sistema nervoso simpático e regiões relacionadas à concentração e atenção. A segunda é um importante neurotransmissor que estimula o sistema nervoso simpático, e está relacionada a diversos transtornos, como a já debatida esquizofrenia.
A seretonina também é um pouco mais elevada do que o normal, e possui um mecanismo de transporte diferenciado, portanto inibindo algumas regiões mais do que deveria. Receptores troboscópicos de glutamato I tambem estao relacionados ao autismo, e são frequentemente encontrados em pacientes que possuem autismo por causa genética. Glutamato esta ligado ao aprendizado e a memória, e os receptores troboscópicos estão relacionados ao MDMA(outro receptor de glutamato) e a excitotoxidade, fenômeno no qual células nervosas são destruídas por superestimulação de neurotransmissores.


Bibliografia:
http://www.autism.com/index.php/symptoms_sensory_overview

Drogas - Cafeína

Bom dia, leitores!


Último post referente as drogas e seu uso terapêutico, chegamos ao fim do semestre e da nossa querida disciplina Bioquímica e Biofísica. E pra encerrar com chave de ouro ,hoje estudaremos a cafeína.
Figura 1

A cafeína é uma droga socialmente aceita e amplamente consumida mundialmente. Pertence a um grupo de compostos lipídicos solúveis denominados de purinas, quimicamente conhecida como 1,3,7,-trimetilxantina (C8H10N4O2). É considerada, juntamente com as anfetaminas e a cocaína, uma droga estimulante psicomotora
, possuindo um efeito acentuado sobre a função mental e comportamental que produz excitação e euforia, redução da sensação de fadiga e aumento da atividade motora. Encontrada naturalmente em grãos de café, em chás, chocolates, grãos de cacau, e nozes da planta cola que está presente em refrigerantes a base de cola. Cerca de 95% da cafeína ingerida é metabolizada pelo fígado, e só cerca de 3% a 5% é recuperada na sua forma original na urina. 
                                                                                         
  • A ação da cafeína no organismo


A ligação da adenosina, um neurotransmissor natural, aos seus receptores,diminui a atividade neural, dilata os vasos sanguíneos, entre outros. A cafeína se liga os receptores da [1] adenosina e impede a ação da mesma sobre o sistema nervoso central (SNC).A cafeína estimula a atividade neural e causa a constrição dos vasos sanguíneos, pois bloqueia a ação da adenosina. Muitos medicamentos contra a dor de cabeça, tal como a Aspirina, contém cafeína, que irá contrair os vasos sanguíneos e aliviar a dor.Com o aumento da atividade neural, glândula supra-renal "pensa" que algum tipo de emergência 
está ocorrendo, e libera grandes quantidades de adrenalina, que causa uma série de efeitos no corpo humano, como a taquicardia, aumento da pressão arterial, abertura dos tubos respiratórios (por isso muitos medicamentos contra a asma contêm cafeína), aumento do metabolismo e contração dos músculos, entre outros.Um outro modo de ação da cafeína é o bloqueio da enzima fosfodiesterase,responsável pela quebra do mensageiro cAMP, então os sinais excitatórios da adrenalina persistem por muito mais tempo. 


Figura 2
[1] A adenosina é considerada um neuromodulador no SNC que, por meio da ativação dos seus receptores metabotrópicos A1 e A2A, controla a excitabilidade neuronal). Atualmente sabe-se que os receptores de adenosina formam heterodímeros com receptores de glutamato metabotrópicos. Esta interação molecular também auxilia no entendimento de como a manipulação farmacológica dos receptores de adenosina apresenta benefícios frente a alguns modelos de injúria cerebral pela excitotoxicidade glutamatérgica. Do ponto de vista do funcionamento da sinapse glutamatérgica, a ativação dos receptores A1 inibe a liberação de glutamato, enquanto que ativação dos receptores A2A exerce efeito facilitatório.

A cafeína também aumenta a concentração de dopamina no sangue por diminuir a recaptação desta no SNC. A dopamina (muito conhecida aqui no blog,leia mais sobre ela em post antigos) e suspeita-se que seja justamente este aumento dos níveis de dopamina que leve ao vício da cafeína.Resumindo, a cafeína, em curto prazo, impede que você durma porque bloqueia a recepção de adenosina; lhe dá mais "energia", pois causa a liberação de adrenalina, e lhe faz sentir melhor, pois manipula a produção de dopamina.O problema do consumo de cafeína só aparece em longo prazo. O mais importante é o efeito que a cafeína tem sobre o sono. A recepção de adenosina é muito importante para o sono, principalmente para o sono profundo.

Figura 3
 • Veja a seguir outros efeitos terapêuticos do café e como apreciá-los:

1. Analgésico: É comprovado que o café tem efeitos positivos para reduzir dor de cabeça e outros mal estares em geral. Para aliviar a dor de uma inflamação de ouvido, por exemplo, consumir pequenas doses de café preto pode ser muito eficiente. Além disso, o café também auxilia na redução de dores desencadeadas por problemas reumáticos ou artrites.

 2. Diurético: Devido aos níveis de cafeína presentes no café, consumi-lo pode provocar a vigília, mantendo as pessoas mais alertas, e também combater a retenção de líquidos. Os mesmos resultados podem ser obtidos com outras bebidas, como algumas variedades de chás.

3. Laxante: Todas as bebidas quentes podem funcionar como estimulantes para a digestão, inclusive o café. A vantagem da bebida é que, além de aumentar a temperatura, ela acelera o ritmo cardíaco, o que aumenta a circulação do sangue e o oxigênio no intestino, melhorando consequentemente a digestão. O melhor é tomá-lo alguns minutos depois das refeições, pois ajudará a dissolver alguns alimentos que não foram processados corretamente.

4. Antioxidante: Apesar de seus efeitos ácidos no sistema digestivo, os polifenóis presentes no café o transformam em um poderoso antioxidante, auxiliando na limpeza do sangue das toxinas e metais pesados, com efeitos antienvelhecimentos.

5. Vasodilatador: O café pode ser usado por pessoas que sofrem de problemas de pressão baixa e até mesmo depressão. Porém, nesses casos, seu uso deve ser regulado por um profissional da saúde, já que será administrado como medicamento. É importante ressaltar que, mesmo com tantos benefícios, o café deve ser consumido com cautela. O abuso da bebida pode reduzir a capacidade de concentração, provocar alucinações nervosas e até mesmo reduzir a fertilidade. Mulheres grávidas, por exemplo, devem consumir, no máximo, duas xícaras por dia ou evitar completamente a bebida.

Bibliografia:

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Drogas - Tabaco

 Bom noite, leitores!

Mais um capítulo referente as drogas e seu uso terapêutico. Hoje estudaremos o tabaco.


Figura 1
O tabaco contém milhares de substâncias, a nicotina é a mais freqüentemente associada com dependência porque é o componente que é psicoativo e causa efeitos comportamentais observáveis, como mudanças de humor, redução do estresse e melhora no desempenho. Os efeitos comportamentais associados com a nicotina liberada durante o ato de fumar incluem alerta, aumento na atenção e na concentração, melhora na memória, redução da ansiedade e supressão do apetite. 

  • Efeitos Comportamentais

A nicotina é uma agonista potente e poderosa de várias subpopulações de receptores nicotínicos do sistema nervoso colinérgico. Doses agudas podem produzir alterações do humor, embora usuários diários sejam substancialmente menos sensíveis a esses efeitos do que não usuários, sugerindo que a tolerância se desenvolve para alguns desses. Brevemente, a nicotina produz efeitos psicoativos, relacionados à dose em humano, que são similares àqueles dos estimulantes e tem escores elevados em testes padronizados de preferência e euforia, considerados confiáveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a avaliação do potencial de dependência.
O potencial de dependência associado com o fumo parece ser equivalente ou ultrapassar os de outras substâncias psicoativas. Em modelos animais, a nicotina pode atuar como reforçador potente e poderoso, ela induz auto-administração intravenosa, facilita a auto-estimulação intracraniana e condiciona preferência por lugar e tem propriedades de discriminação de estímulo. Padrões de auto-estimulação são mais parecidos com os padrões de estimulantes do que de outras classes de drogas.

  • Mecanismo de Ação

 Na célula, a nicotina liga-se aos receptores de acetilcolina nicotínicos (nAChR). Existe uma variedade de subtipos de nAChR neuronais. Técnicas de clonagem revelaram várias subunidades do nAChR diferentes em mamíferos. Os receptores são compostos por cinco subunidades em torno de um canal iônico. A ligação de agonistas (por exemplo, nicotina) faz com que a conformação de repouso das subunidades se modifique para a conformação aberta e permite o influxo de sódio, o que causa despolarização. No cérebro, os receptores nicotínicos estão localizados principalmente nos terminais pré-sinápticos e modulam a liberação de neurotransmissor; dessa forma, os efeitos da nicotina podem estar relacionados a vários sistemas de neurotransmissor. A nicotina conhecidamente promove a síntese de dopamina aumentando a expressão da tirosina hidroxilase e sua liberação tanto na via nigroestriatal como na mesolímbica .

A nicotina aumenta a liberação de dopamina no nucleus accumbens e o bloqueio dessa liberação reduz a auto-administração de nicotina em ratos . A nicotina estimula a transmissão dopaminérgica em áreas cerebrais específicas e, em particular, na cápsula do nucleus accumbens e em áreas da amígdala estendida, que se relacionaram com a dependência para a maioria das drogas . Assim, a nicotina depende da dopamina para seus efeitos comportamentais, que são mais relevantes para suas propriedades reforçadoras; isto é, provavelmente, a base da capacidade de produzir dependência do tabaco. Entretanto, outros sistemas neuronais relacionados à dependência de substância, como os sistemas opióide, glutamatérgico, serotoninérgico e de glicocorticóides, podem ter importância para aspectos específicos da dependência de substância.


      
  • O processo de parar de fumar: estágios de mudança


Figura 2
Parar de fumar não se trata de uma simples decisão súbita em transformar-se de um “fumante regular” em um “não fumante”. Até que um indivíduo realmente resolva parar de fumar, ele percorre um caminho sutil, cheio de idas e vindas. São os chamados “estágios de mudança”, que foram assim descritos por Prochaska e Di Clemente:


  1. Estágio pré-contemplativo: nesse estágio o indivíduo não pretende parar de fumar nos próximos seis meses. São aqueles pacientes que vêem mais prós do que contras em fumar, que negam os malefícios do tabaco à saúde;
  2. Estágio contemplativo: pretende seriamente parar de fumar nos próximos seis meses mas, na verdade, está ambivalente. Encontra um pouco mais contras do que prós em fumar mas, em caso de dúvida, não pára;
  3. Preparação para ação: Pretende seriamente parar no curso do próximo mês. Já começa intuitivamente a usar técnicas comportamentais para livrar-se do fumo. Adia o primeiro cigarro do dia, diminui o número de cigarros fumados etc. Fez pelo menos uma tentativa de parar de fumar no último ano;
  4. Ação: O indivíduo parou de fumar;
  5. Manutenção: Até seis meses após o indivíduo ter abandonado o tabaco. Esse período não ocorre passivamente, apenas deixando as coisas como estão. O indivíduo utiliza mecanismos comportamentais de adaptação ao meio sem cigarro, podendo até mesmo alterar seus hábitos rotineiros (como passar a não tomar mais café, por exemplo).
  • Tratamentos:

Seja qual for o tipo de tratamento, seu objetivo deve ser o de fazer o indivíduo mover-se de um estágio de mudança para outro, no sentido da AÇÃO (parar de fumar). Por isso podemos dizer que existem métodos diretos e indiretos de parar de fumar.
  1. Métodos indiretos:São aqueles que influenciam o fumante à abandonar o cigarro, sem que haja um contato direto com ele. Aqui a ênfase se desloca do tratamento clínico, individual, para a saúde pública. Temos como exemplo a realização de campanhas educacionais anti-fumo; elaboração de normas sociais como a proibição do fumo em restaurantes, teatros e cinemas; e a aplicação de altos impostos sobre o cigarro. Estas intervenções têm como foco a comunidade, são menos custosas e produzem taxas de abstinência mais baixas. Como conseguem atingir um número maior de fumantes, produzem  taxas populacionais de abstinência mais altas e reduzem mais a morbidade e mortalidade.
  2.  Métodos diretos: Apesar de mais custosos, têm também grande impacto em saúde pública, proporcionando redução na prevalência de fumantes (e consequentemente de sua morbidade e mortalidade). Envolvem utilização de fármacos, realização de psicoterapia, ou somente aconselhamento por um profissional de saúde a respeito da maneira mais adequada de deixar de fumar.A maioria dos fumantes prefere não procurar programas de suspensão do tabagismo e parar de fumar sozinho. Por isso, estes programas são usados aquém de suas possibilidades, por poucos daqueles indivíduos que não conseguiram parar por si mesmos.
Figura 3

Curiosidade!
A meia-vida média da nicotina é de aproximadamente 2h, mas é cerca de 35% maior em pessoas com uma variante particular de um gene (isto é, um alelo) para a enzima (CYP2A6) que inibia a via metabólica primária da nicotina. Estudos preliminares sugerem que a freqüência do alelo da CYP2A6 seja maior em asiáticos do que em africanos ou caucasianos e que essa diferença explica parcialmente o menor consumo diário de cigarros e o risco de câncer de pulmão menor em asiáticos em comparação com africanos e caucasianos.

Bibliografia:

domingo, 30 de junho de 2013

Neurotransmissores: Dopamina

Olá, hoje o assunto é a dopamina, um neurotransmissor estimulante do sistema nervoso central (SNC).

A dopamina faz parte da família das catecolaminas, assim como a epinefrina e a norepinefrina. Ela age como neurotransmissor em diversas vias, sendo uma delas essencial para o comportamento estimulado por recompensa.

Fora do SNC, a dopamina funciona como hormônio, liberado pelo hipotálamo, e age como vasodilatador, aumentando a excreção de sódio, reduzindo a produção de insulina, reduzindo a motilidade intestinal e reduzindo a atividade de linfócitos.

Vias Dopaminérgicas

Existem oito vias dopaminérgicas, vias de transmissão da dopamina de uma região do cérebro para outra, mas as quatro principais são:

- Via mesolímbica: transmite dopamina da área tegmental ventral (VTA) para o sistema límbico por meio do nucleus accumbens (aquele discutido no post sobre a Tammy Jung), está relacionada ao sistema de recompensa e à memória;

- Via mesocortical: transmite dopamina da ára tegmental ventral para o córtex frontal, a hiperatividade dessa via está relacionada a alucinações e delírios psicóticos;

- Via nigro-estriatal: transmite dopamina da substantia nigra (do latim, recebe esse nome devido a alta pigmentação dos neurônios produtores de dopamina devido ao acúmulo de melanina) para o striatum, essa via está relacionada ao controle motor;

- Via tuberoinfundibular: transmite dopamina do hipotálamo para a glândula pituitária, influencia a secreção de alguns hormônios.

Síntese

As catecolaminas são sintetizadas por uma mesma via, a partir do aminoácido L-Tirosina.

Receptores

Em mamíferos, foram encontrados cinco subtipos de receptores de dopamina (D1 a D5). Todos eles funcionam, como a maioria dos receptores de serotonina, associados à proteína G, cujo mecanismo já foi explicado no post sobre serotonina. D1 e D2 são os principais receptores, os outros são separados em famílias por se parecerem com um desses dois.

Os receptores de dopamina são normalmente estáveis, mas mudanças agudas nos níveis de dopamina podem aumentar ou diminuir as suas concentrações. Antipsicóticos e diversas drogas estimulantes agem nos receptores dopaminérgicos e podem afetar suas regulações.

Em geral, estimulantes como cocaína, nicotina, metanfetamina e anfetamina causam uma redução da concentração de receptores, causando uma diminuição no prazer derivado de situações comuns, que não envolvam o uso desses estimulantes.  Enquanto isso, antipsicóticos tendem a causar um aumento na concentração ou na afinidade dos receptores pela dopamina, o que, na via nigro-estriatal, pode resultar em cinesia tardia e parkinsonismo (tremores, tiques e movimentos involuntários).

Psicose

A transmissão anormalmente alta de dopamina é uma das hipóteses de causas para as psicoses, das quais a mais comum é a esquizofrenia. Para saber mais, leias os posts, já publicados neste blog, sobre esquizofrenia.

Causas: http://oneurotransmissor.blogspot.com.br/2013/05/patologias-causas-esquizofrenia.html
e
Tratamentos: http://oneurotransmissor.blogspot.com.br/2013/05/patologias-tratamentos-esquizofrenia.html

Doença de Parkinson

A doença de Parkinson é uma condição degenerativa que causa tremores e comprometimento motor. Ela é causada pela perda de neurônios secretores, e consequente redução nos níveis, de dopamina na via nigro-estriatal.

Bibliografia

http://thebrain.mcgill.ca/flash/a/a_03/a_03_cl/a_03_cl_que/a_03_cl_que.html

http://www.news-medical.net/health/What-is-Dopamine.aspx

http://archneur.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=785704

http://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev.neuro.28.061604.135722

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAQkwAK/antipsicoticos-agentes-neurolepticos